Estou a quase 5 anos morando em território paraense e, como
qualquer pessoa que more em Belém e goste
de viver em sociedade, tomei parte entre os times que apaixonam esta cidade e
estado, como em poucos lugares do Brasil. Fui a jogos do Remo, da Tuna e do
Paysandú, tive contato com o cotidiano dos debates , lugares comuns, quesitos
existentes em todo o lugar que vive o futebol como parte de primeira linha do
imaginário popular. Fiz isso pois já tenho um time de coração, que é o Flamengo
e não tinha muita vontade de torcer para outro, apesar de simpatizar com o
Santos. Acabei por decidir adentrar a torcida do Paysandú.
Mas, escrevo este texto não como bicolor, ou rubro-negro, ou
mesmo alvinegro da baixada santista, mas como admirador da instituição FUTEBOL
PROFISSIONAL, que é indissociável da condição de brasileiro. Faço isso depois
de acompanhar um dos maiores e tristes golpes que esta instituição poderia receber
com a desistência do Cametá em participar da Série D do campeonato brasileiro.
Este time derrotou do Clube do Remo após os dois jogos da final do campeonato paraense de futebol, no
Mangueirão, na frente de 60.000 torcedores (se somados os públicos das duas
partidas da final). Nenhum comentarista de renome, nem mesmo entre os remistas
que conheço, reclamou do resultado final. Houve quem chorasse, berrasse,
esperneasse, coisas que os torcedores do Remo já acostumaram-se a fazer, mas
não existiu crítica ao fato concreto em questão: o Clube do Remo perdeu as finais do Parazão 2012 para o Cametá, mais conhecido como Mapará
Remoso.
Mas, para os dirigentes, beneméritos, os anciãos, enfim, o trem da alegria (com raríssimas exceções) que dirige o clube, o que vale é sua vontade,
sua vaidade, sua fanfarronice. O resultado, sua péssima administração, o
desrespeito com que tratam os profissionais que ali trabalham, são elementos
acessórios da realidade, afinal, por que levá-los em conta?
Por que levar em conta que a anos o clube privilegia a
contratação de jogadores de qualidade duvidosa e caros, que não são absorvidos
pelo cenário principal do futebol do sul e sudeste. E por que levar em conta
que até hoje o Remo não teve nenhuma ação relevante de mudança administrativa,
de novas idéias, captação de recursos por fontes diferenciadas. Por que levar
em conta que só alguns poucos elegem a diretoria do Remo, e, entre os
pouquíssimos eleitos, elege-se, indiretamente, o cabeça, ou Cabeça. Por que
levar em conta?
Por que levar em conta que o Remo trata as divisões de base
do futebol profissional de forma mais que amadora, beirando a
irresponsabilidade. É ali onde deveriam estar concentrados 50%, dos recursos, pois
é donde sairão novos talentos, que custam menos e que podem trazer lucros
maiores em perspectiva. Mas isso dá trabalho, não traz resultados imediatos e
não atrai tanto as lentes da imprensa.
O negócio é RE-PÁ, Mangueirão lotado e divisão da grana dos
ingressos.
A torcida, apaixonada, não quer saber muito quem é o
desgraçado que está se dando bem na administração do clube. Não quer saber dos
jogos sujos e das auto sabotagens que os próprios diretores fazem uns com os
outros, nem quanto cada um ganha com a venda e compra de uma série de pernas de
pau, que, em pouco tempo, estarão processando o Clube, provavelmente com razão.
Não quer saber se cartola sobe nas costas dos outros para dizer à imprensa
esportiva paraense quem teve a genial idéia de alguma contratação desastrosa,
aliás, como gostam e temem, e bajulam e cobram bajulação da imprensa, um
verdadeiro campo de trabalho para psicólogos. Enfim, um circo, verdadeiro show
do Tom (sem querer ofender os profissionais que trabalham nestes lugares).
Esta turma deve ter enlouquecido a mente do presidente do Cametá, oferecido
mundos e fundos para que este retirasse o Campeão Paraense da Série D do
Campeonato Brasileiro. E logo num ano em que a CBF anunciou que todos os custos
de deslocamento e estadia serão pagos por ela, diminuindo muito o custo mensal
que o clube teria. Não há razão lógica para que o Cametá tenha tomado esta decisão.
Parece que não sou só eu que penso assim, a população da
cidade, revoltada, promoveu um verdadeiro protesto, ameaçando dirigentes do
clube tocantino, criando uma situação muito difícil para os envolvidos. Não dá pra esperar
tranqüilidade desta turma, se era isso o que os geniais dirigentes azulinos
pensavam. E, se a administração de Klautau derrubou o escudo durante madrugada,
a atual o fez no escuro de algum gabinete, ou pelas ondas de um celular. O
resultado é o mesmo.
Desta vez o golpe, se conseguirem dar, trará o gosto
amargo do erro, do conluio, das sombras e da vergonha. Não haverá derrota
completa dos derrotados, e nem vitória dos vitoriosos, todos perderão e mancha-se
a história dos dois clubes para sempre.