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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Malditos Corvos

assisti, depois de mais de um ano, o Bom dia Brasil....parecia que estava num programa da Marina Silva...estão, cretina e morbidamente, baseando-se no fato de que o nome da ambientalista pentecostal, ainda não é candidata a presidente (mas a vice continua sendo!), torcendo e operando abertamente para esta ser sacramentada como o nome oficial do PSB...mostram a Dilma e o Lula, ela com cara de poucos amigos e o Lula chorando, afirmando que, entre vaias e aplausos, foram despedir-se, esquecendo de mencionar que foi histórico aliado, na Câmara, no ministério e em Pernambuco, por onze anos, dos dois... mostram um tosco Aécio Neves, entrando no velório de sua própria candidatura, fingindo o choro...mostram a pesquisa do Datafolha, pela qual Marina, a ex-petista que participou do governo do lula por 7 anos ininterruptos, que foi candidata e abandonou o PV, que tentou criar um partido, não conseguiu, mesmo com o apoio de políticos antigos e amigados com o sistema e com a direita, como Walter Feldman e Alfredo Sirkis, que entrou de forma absolutamente eleitoreira no PSB, esta senhora, pentecostal, será a nova presidente eleita do Brasil...enfim...se morasse num país aonde esta emissora de TV é um coxinhômetro, ou seja, aponta os comportamentos médios de hordas de coxinhas, com sangue na garganta (rsrs) e que houvesse um candidato natural, pródigo, corrupto e viciado em entorpecentes, que somente em sonhos arrogantes conseguiria impedir que a sociedade enxergasse suas contradições...se tudo isso existisse, pensaria que a elite brasileira escolheu sua candidata, ao mesmo tempo rifando o "vida lôka"...bom...analisemos rapidamente essa escolha:
1- acho que isso é afetação demais e realidade pouca...não acredito nessa pesquisa do Datafolha e amanhã começa o horário eleitoral gratuito, a pauta muda, e a vida segue...pra mim é desespero do grupo Folha e Globo, que precisa criar a sensação de que um segundo turno é possível e necessário...
2- mesmo ainda não candidata oficial, esta exposição da pentecostal absolutamente desigual e embalsamada pelo sentimentalismo diante da morte de EC, é absurda, diante da proximidade das eleições, e, talvez, em memória a ele ainda não tenham entrado com uma ação no TSE...
3- o PSB vai dar legenda para uma pessoa que declaradamente não é de seu partido?
3- Aécio ainda é candidato?
4- o ódio e preconceito unifica a direita de forma definitiva...João Santana estava correto quando afirmou que essa é a eleição da verdade contra o preconceito, contra o ódio....é ele que escorre pelos cantos das bocas da grande maioria dos eleitores da senhora, ex-petista, ex-ministra de Lula, ex-PV, ex-REDE, e, a partir de agora, queridinha de Ali Kamel e dos Marinhos...

enfim...aos que achavam que a Dilma ou o Aécio seriam culpados pela morte de EC, imbecis, talvez ler estas palavras aponte para nova lista de suspeitos..

terça-feira, 15 de julho de 2014

Quem ganhou e quem perdeu com a Copa das Copas...:


1- sem dúvida ganhou Dilma, o Governo, os aliados e os que sustentaram que tudo seria ótimo....a vida e o mundo deram e dão razão a esta perspectiva...

2- perdem Aécio, o PSDB, o PIG e todos os covardes, os agourentos, os malditos coxinhas que previram, apostaram, aterrorizaram, com o mais vil dos armamentos: bombas de estilhaçamento moral, com o veneno do complexo de inferioridade, do ódio e da inveja...nada do que disseram aconteceu. TOSCOS...

3- fica claro que os coxinhas não foram capazes de sustentar junho...Não são donos nem representantes, as máscaras de anonymous não simbolizam tudo aquilo, apenas uma parte...

4- a democracia precisa ser aprimorada no país...pessoas em quem confio denunciaram excessos pelo estado, inadmissíveis, se não explicados e justificados...É preciso debater esse e outros temas durante a Reforma Política, que espero vir por constituinte exclusiva...

5- ganha o setor de turismo e serviços que terao muito mais trabalho e negócios a partir deste momento, eliminando qualquer dúvida sobre nossa capacidade de receber, e receber bem...

6- O Brasil resignifica sua imagem ao mundo, fechando um ciclo iniciado com a eleição de Lula, melhorando sua feição, de alegria, simpatia, agregando a eficiência e segurança... nós e, e todo o mundo, saímos melhor que entramos nesses mágicos dias por que passamos, de junho e julho de 2014..
 


por fim, muitos mais elementos, mas considero estes preponderantes...em debate...

quarta-feira, 9 de julho de 2014

A DIFERENÇA ENTRE CIÊNCIA, FILOSOFIA E RELIGIÃO




                A ciência trata de matérias específicas, de partes da realidade, suas leis específicas, em diálogo com as irmãs (demais ciências de um mesmo gênero, por vezes até de gêneros diferentes), e com a filosofia, de seus princípios. Existem opiniões diversas sobre o que pode ser caracterizado como ciência ou não. A principal caracterização pelo senso comum, do que significa uma ciência, é algo exato, ou muito próximo disso. Essa exatidão,  é viável (na grande maioria dos casos) quando fundamentadas por cálculos ou experiências laboratoriais.
                 As chamadas Ciências Humanas, como História e Geografia, dependem de aspectos que podem aproximar-se, em boa parte das vezes, do que chamamos de realidade, ou da efetividade em seu desenvolvimento, sendo difícil a aproximação, em centímetros, do objeto. Há os que considerem, apesar disso, que estas últimas, por terem formas e conteúdos definidos e um conjunto de práticas e tradições, têm o suficiente para julgarem possuir ciência de seus objetos. De fato, algo antecede essa discussão, pois, também há quem diga que a exatidão absoluta é tão verdadeira quanto um equino alado, e que a simples atuação nessas esquinas do conhecimento humano gerariam uma ciência desta posição específica, o que parece lógico, podendo a realidade (e é o que muitas vezes acontece), modificar seu rumo, a partir do movimento para a geração uma ciência qualquer.
                A primeira difere da segunda, a Filosofia, porque a última é um discurso da realidade sobre si, de acordo com uns, ou uma perspectiva de uma realidade externa, segundo outros. Mas, de uma, ou outra forma, essa trata de princípios ou fundamentos, ou ainda coisas principais e funções vitais, do que existe, seja conosco, ou para nós. De qualquer forma, essa tem seu quintal bastante claro, cristalizando, dissecando, juntando ou separando, tudo, a seu juízo.
                A terceira difere mais da primeira que da segunda, pois, a Religião tende a tratar dos inícios, e dos problemas centrais, os dilemas mais importantes, da humanidade, mas, diferente da Filosofia Laica, apresentando caminhos, com conteúdos e formas, ligados a entes não demonstráveis fisicamente, uma superação. Em geral há uma moralidade, na maior parte das vezes explícita, sobre as condutas desejáveis, ou não, e reprimendas para a transigência, e bônus para a intransigência destas.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Casa Grande é Coxinha



Tinha prometido não falar sobre o assunto que é o mesmo que bater palma pra palhaço...mas, o paulista mala do futebol, acertou de novo...É ódio de classe...Não há nada de político...o problema é que essa turma tem medo de povo...tem medo do que significa justiça social...tem medo de mudança...tem medo de lavar a louça, como diz o professor de Filosofia da UFPA, Roberto Barros...de acordo com ele, numa apropriação interessante de Gilberto Freire, a preguiça, que juram ser característica de índios e negros (coxinhas quase em geral...aqui excluo parte dos esquerdistas, tipo PSOL e PSTU), seria uma idiossincrasia (já me apropriando de Nietzsche) do senhor de engenho, do dono da casa, e de tudo que nela há, escravos, esposa, utensílios, filhos, animais...e que essa turma tinha alguém fazer cada uma das coisas...e que o sonho de consumo destes e de todos seria isso...esse passou a ser o alvo, passou a ser a base de motivação...e, como o senhor pode valer-se de escravos, dor, castração, para manter seu conforto doentio, todos os que estão abaixo dele na pirâmide social e pobres de espírito o suficiente para vivet sem refletir, passam a idealizar esse estágio material e espiritual, de bosta, podem valer-se de qualquer coisa (existe pouco pior que isso)....os coxinhas de direita da atualidade, em sua grande maioria, são motivados, principalmente, pelo medo da perda...Não passarão...precisamos todos fazer trabalho intelectual e manual...o tempo da casa grande e da senzala acabou...melhor acostumarem-se logo com isso, ou, de fato, o pessoal vai começar a ficar chateado...e falo de uma galera que não ficará feliz de novo com o velho, que talvez use mais que palavras nas redes sociais para garantirem que o novo tempo continue se inovando e melhorando, que podem ficar hostis, bem mais que os retardados que estão arrancando placas de trânsito...querem ajudar...bora aperfeiçoar o projeto que está em curso e fiquem pianinho...

quarta-feira, 14 de maio de 2014

A Privatização do Açaí

     Pelas sombras das mangueiras Ronílson se esgueirava, procurando fugir de possíveis olhares gordos ou curiosos, e passar incólume em busca de mais uma refeição, a certeza de mais um pouco de vida, mais um pouco de açaí.
     Quando criança, uma infância difícil na Cidade Velha, nem tão velha naquele tempo, a felicidade dele e dos irmãos se completava quando a mãe, após uma manhã de árduo trabalho no Ver o Peso, trazia o aguardado líquido vinho, que, somado à farinha grossa e, por vezes, a restos de peixes fritos em óleo velho, preenchiam o vazio de seus corpos famintos. Essa memória trazia tristeza, pois remetia a saudosas lembranças que este sentia da família, destroçada pela violência que aterrissou em Belém no inicio dos anos 2000, e que se agravava ano a ano. O destino de Socorro, sua mãe, e sua prole, foi definido por traficantes maranhenses que se instalaram perto de onde moravam, encrencando com alguns de seus filhos, levando-os a uma disputa que terminou com a morte de uns, a fuga de outros, abalando o resquício de sanidade que sobrava à corajosa matriarca, levando-a para uma "Casa de Descanso". Poucos meses depois, repousou permanentemente, encontrando-se com os seus já idos. As lembranças esvaiam-se, sobrando as emoções, que não eram suficientes para apagar a fome, que o impelia a receber a dose diária de seu alimento preferido.
     Já avistava o Bar do Parque, vindo pelas costas do Teatro da Paz, sem que ninguém o molestasse, nem os mendigos adversários que invejavam seus patrimônios efêmeros, nem os guardas municipais, que sempre encontravam uma forma de rebaixá-lo, seja com palavras, seja com tabefes dolorosamente aplicados, em geral na região do plexo, que aumentavam a sensação do hiato estomacal, e doíam demais. A esta altura, já no calçadão principal da Praça da República, que abriga o melhor e o pior de Belém, sua história e suas vontades do presente, a diversão e a dor de um povo que, acima de tudo, é original e bem humorado, continuava em frente.
     As largas calçadas e a Avenida Presidente Vargas separavam nosso herói de seu manjar. Todos os dias, por volta das onze da manhã, fazia o mesmo trajeto, saindo do porão de um dos coretos da praça, onde já morava a mais de dois anos, trilhando o percurso com o cuidado de evitar os obstáculos mencionados. O
objetivo era chegar à portaria do prédio do Banco da Amazônia, onde uma amiga de infância, que teve sorte diversa da sua, comprava um litro de açaí e meio de farinha d'água, aguardando-o, britanicamente, que chegava na hora, mais por seu desespero de subsistir, que pelo orgulho, caso do famoso predicado da cultura inglesa.
     Os fins de semana, que para a maior parte das pessoas significa descanso e alegria, para ele eram uma verdadeira desgraça, pois a praça ficava cheia de pessoas e comerciantes que, além de xeretar sua casa, emporcalhavam tudo, atraindo ratos e pombos, que uns de noite e outros de dia, impediam que sua vida
fosse menos desesperadora. A mais, neste período da semana não havia expediente no BASA, causando um óbvio decréscimo em sua dieta, obrigando-o a encontrar outras fontes de calorias, em geral pouco dignas e bastante perigosas.
     O sinal fechou e, em meio a multidão que anda por este local, neste horário, atravessou a rua, ansiando pelo alimento tão apreciado. Olhou por entre os vidros e madeiras que formavam a porta giratória, característica dos bancos da atualidade, enxergando sua benfeitora. Lia olhou para ele de um jeito diferente, um olhar de tristeza e decepção.
- Oi Ronílson.
- Oi Lia.
- Ronílson, tenho uma noticia chata.
- Que foi? Perguntou Ronílson
- Privatizaram o açaí.
- Como assim?
- É isso mesmo. Uma empresa japonesa está comprando, desde sexta feira, toda a produção de açaí que chega aos barcos das ilhas e dos tradicionais fornecedores, como Mojú, Abaetetuba e Igarapé-Miri. Eles estão pagando cerca de 40 reais pelo quilo, quase sete vezes mais do que os batedores costumam
desembolsar. Quem esta tomando açaí hoje é quem tem condições de garantir cerca de sessenta reais o litro do açaí médio, ou 80 reais do grosso, quase dez vezes mais do que as pessoas estavam acostumadas. Fiz questão de comprar um litro pra ti, mas esta será a última vez que poderei fazê-lo. A partir de amanhã lhe
darei uma quentinha.
     Um frio subiu pelos pés de nosso amigo, alcançando a espinha e embranquecendo-o. Perdeu parte do equilíbrio e começou a cambalear. Lia, desesperada, gritou pedindo ajuda, pedido este prontamente atendido pelo segurança. Conseguiram conduzi-lo para as cadeiras laterais que jazem contíguas a parede do hall de entrada do poderoso banco verde, oferecendo-lhe água. Aos poucos sua consciência, receosa, voltava.
     Sem ter assimilado o desastre estabelecido, Ronílson voltou em ritmo acelerado para sua morada e saboreou o açaí, como se fosse a ultima vez que pudesse fazê-lo. Quando acabou sua iguaria, degustada, sem nem ao menos um copo d'água, para que o gosto não fugisse de seu paladar e pudesse ser garantido o seu espaço na memória, como se pudesse, algum dia, esquecer. Logo após a última colherada, o sono chegou, pestanejou e, embalado pelas poucas, mas tristes lágrimas que desciam por seu rosto, tombou na rede.
     Um sono profundo o acometeu, chegando na zona onírica, iniciando uma caminhada por vales cheios de palmeiras, verdejantes, sopradas por ventos fortes, com muitas mulheres seminuas caminhando por entres elas, lambuzadas de roxo, brincando entre si e banhando-se num caudaloso rio, comum na Região Amazônica. Todas tinham o mesmo rosto de Lia, com seu corpo magro e bem delineado, seios firmes, mas macios, exatamente como imaginava serem os de sua musa. Ele continuava sua caminhada, feliz, por estar em meio a mais açaí do que conseguiria consumir por dez vidas e na companhia de centenas de Lias, cuja única atenção dispensada servia diretamente a nosso herói. Em certo momento, sentindo calor, parou em frente ao mar doce que ondulava nas margens do grande açaizeiro, e tentou alcançar a água. Ela parecia estar perto, mas cada vez que sua mão se aproximava, ela ficava mais distante, até que este se desequilibrou e caiu.
     Em meio a seu sono, três mendigos adversários seus jogaram um balde de líquido sujo em seu rosto, acordando-o do melhor sonho que já havia sonhado, e onde ele gostaria de ter ficado para sempre. Sua primeira reação foi pegar o pedaço de ferro que guardava para proteger-se e dar no rosto do primeiro arruaceiro, cuja vida esvaiu-se na hora, espantando os demais, que saíram ralhando palavras mais ininteligíveis que o normal. A esta hora Ronílson já entendia a pendenga em que tinha se metido, esqueceu todo o pouco de coisas que tinha sob sua propriedade e saiu em corrida sem direção. Em sua cabeça jaziam as Lias, o açaí e o rosto do mendigo atingido por sua fúria, além dos sons de buzina, as risadas e pássaros que se misturavam na grande praça, nesse início de final de tarde.
     Seu rumo, desrrumado, o levava à fonte do mal originário deste malfadado dia: o mercado do Ver-o-Peso, mundialmente famoso por ser o maior comércio popular concentrado de toda a Floresta Amazônica e, que antigamente, era espaço da Alfândega Imperial fazer a vista no peso dos gêneros comercializados a partir dali, ganhando este nome em função disso. Lá é que deveriam estar os seus antagonistas, os responsáveis por piorar sua vida, que não era das mais confortáveis. Seu ódio alimentava o organismo debilitado, injetando adrenalina e fazendo-o correr cada vez mais rápido pela Avenida Presidente Vargas, na contramão, levando-o até a Estação das Docas, espacialmente junta ao Veropa (termo utilizado pelos paraenses que gostam de ser íntimos do dito mercado).
     Os pontos de ônibus cheios de gente, os carros, nada disso foi obstáculo para sua obstinação em fazer algo para mostrar que desaprovava a ação nipônica, externando algo internalizado por décadas: sua indignação com a situação a que ele e sua família foram empurrados e a indiferença que a sociedade manifestou, não se manifestando sobre o assunto.
     Já em frente ao complexo e rico centro de vendas, seus olhos angustiados escaneavam a feira anárquica em busca de seus algozes. Avistou, de longe, um movimento anormal, com muito barulho e gritaria vindos do ancoradouro. Chegando mais perto, avistou uma carreta de certo porte, cheia de açaí e japoneses gritando ensandecidos com o motorista, que parecia estar fazendo algo bem diferente do combinado. Hipnotizado pela quantidade de frutos sendo carregados no veículo, Ronílson avançou em direção a cena peculiar.
     Em frente aos malditos japoneses surrupiadores, ele se pôs a falar:
- Seus desgraçados! Vocês transformam tudo em negocio! Estão arruinando a vida de centenas de milhares de pessoas como eu, que cresceram tomando açaí e que não sabem viver sem este alimento. Porque vocês não vão mexer com seus frutos, seus animais, seu mar? Por que precisam vir ate aqui e trazer a infelicidade, a ganância, fazendo-nos mais pobres, levando embora nosso maior patrimônio.
     Ao mesmo tempo em que falava, gesticulava, chamando a atenção de todos os que ali se encontravam, chegava mais perto do fim da carreta, que estava a receber os derradeiros carregamentos. Suas palavras tocaram no fundo da alma dos paraenses que trabalham diariamente naquele lugar, transtornados com os gritos pouco amistosos que os gringos bradavam contra eles e seus parentes.
     Passo a passo, aproximavam-se, vibrando de forma parecida, com um misto de obstinação e hostilidade, chegando perto de nosso herói.
- Meus amigos. Por que deixaremos essa turma fazer conosco o que querem, sem ao menos protestar? Não deixarei nem mais um único fruto sair daqui e aqueles que estiverem comigo, juntem-se nesta luta.
      Já em torno do líder, a população iniciou ataques tímidos, verbais e físicos, aos japoneses e a seu veiculo abarrotado de açaí. Alguns chutavam as portas, outros escalavam a carroceria, um bom número deles avançava fisicamente contra os orientais que, atônitos, batiam em retirada, aos poucos, na esperança de que alguém recobrasse a consciência e impedisse-os de continuar seu intuito pouco claro, mas bastante violento.
     A multidão aumentou, ficou mais alvoroçada e começou a balançar a carreta, que mal se mexia no inicio, mas devagar, pouco a pouco, embalava e já ameaçava tombar. Como na vida real tudo que pode acontecer de ruim, em geral acaba acontecendo pior, esta cena não fugiu a regra, esmagando cerca de sete pessoas, dentre elas, Ronílson.
     A polícia finalmente se mexeu e foi ajudar, já com os irritantes sons das sirenes de ambulâncias e viaturas dos bombeiros, além dos gritos de mulheres e crianças que já choravam a possível morte de seus maridos e pais. Um dos japoneses não conseguiu escapar, recebendo a fúria de uma turba disposta a deixar pouco para seus entes enterrarem. Concomitante a isso, pessoas cavavam no açaí em busca dos corpos soterrados.
     Caminhando pelos caminhos de açaizeiros, feliz em olhar de relance a beleza das centenas de Lias que corriam e brincavam, inspirado pelo som das águas e o toque dos ventos que o circulavam sinestesicamente, Ronílson viu, de longe, sua mãe. Mais à frente, um por um, seus irmãos foram aparecendo, sorrindo, alegres em vê-lo, pela graça de estarem em família, por estarem no paraíso. O olhar sereno de Dona Socorro e a certeza da fartura, de amor e alimento, trouxeram paz a seu coração, eliminando a lembrança da frustração e falta. Ele podia descansar livre, entregou-se para a felicidade.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

SOBRE A GREVE NAS UNIVERSIDADES





                                                                                                                                           por Alan Frick
graduando em Filosofia pela UFPA
Conselheiro Universitário Discente da UFPA
Ex-Conselheiro Universitário Discente pela UFF
Ex-presidente da UEE-RJ (União Estadual dos Estudantes do Rio de Janeiro)
Ex- vice  presidente RJ da UNE ( União Nacional dos Estudantes)

                Depois de uma discussão com uma professora, chamada Verônica (FILOSOFIA UFPA), em sala aula, me inspirei a escrever este texto. Esta, em um de seus muitos momentos de infelicidade pedagógica, no ensino de práticas pedagógicas para professores de filosofia, parou a aula. Antes de passar um vídeo sobre a história de um templo com esculturas tântricas na Índia, disse estar feliz porque o ANDES havia decidido iniciar um movimento grevista nacional: "temos de aproveitar o momento de fragilidade do governo para desgastá-lo ainda mais". Por motivos óbvios pedi a palavra, prontamente negada, mas não antes que eu dissesse considerar esta postura um abuso de seu poder professoral do discurso, levantando uma questão polêmica sem oportunizar o contraditório. Esta retrucou, dizendo que eu era grande demais e minha voz muito alta. Pela lógica anões e crianças deveriam ter imunidade parlamentar.
                Mas entrando no que me proponho a tratar, este movimento grevista anunciado pela educadora:
                Uma greve significa, em termos de senso comum, uma paralisação de trabalhadores com vistas a um fim, normalmente, salarial. Existem outros tipos de greve, como políticas, com o objetivo de desestabilizar ou mudar mandatários, em geral conduzidas por várias categorias e locais geográficos distintos. Existem as greves de estudantis que lutam por melhores condições de aula, ou transporte, ou outras dezenas de exemplos da mesma natureza. Ainda existem greves de fome em que apela-se para o emocional de uma ou mais pessoas, ou greves íntimas, caso que os cônjuges conhecem bem o significado.
                O que fica claro aqui é que a greve não é um ente desprovido de contexto ou motivos, sendo, portanto, um instrumento de luta, que pode servir a diferentes segmentos  ou classes sociais, ou ainda com naturezas ideológicas distintas. A Greve do Porto de Santos, quando os trabalhadores, liderados pelo partido comunista, recusaram-se a carregar os navios de café, que seguiriam para o abastecimento do Regime Franquista na Espanha, ou ainda, em outro extremo, a greve dos engenheiros da PDVSA, em 2002, quando houve uma das diversas tentativas da direita venezuelana desestabilizar o governo e a liderança de Hugo Chávez.
                Estes dois últimos parágrafos servem para desarmar os imbecis esquerdistas, que provavelmente me chamarão por alcunhas pejorativas por escrever este texto. A greve não é boa ou má, positiva ou negativa, de luta ou pelega, por natureza, depende de suas razões, de seus agentes, mas, repito, a greve é um, e quero frisar este artigo "um", dos instrumentos disponíveis para a classe trabalhadora, na busca de seus legítimos interesses.
                Durante o Governo de Fernando Henrique Cardoso, a universidade pública brasileira, assim como o restante da máquina administrativa, ficou em xeque. O melhor, segundo o pensamento neoliberal, seria liberar para as regras de mercado boa parte das tarefas que, historicamente, foram desempenhadas pelo estado. Assuntos como saúde, educação, comunicação, transportes e geração de energia,  estratégicos para qualquer país, seriam melhor executados, como políticas públicas, se feitos por particulares, com o acompanhamento de entes supra estatais (agências reguladoras), que agiriam quando o mercado não desse conta de regular tudo. E assim ficou sustentada ideologicamente, no Brasil,  e em boa parte de nosso continente, a sanha privatizadora.
                Este período acabou com a vitória das forças progressistas lideradas por Lula, que estabeleceu uma ordem diferenciada na perspectiva educacional, vista pelos tucanos como gastos e esforço estatal desnecessário, passando a ser encarada como investimento. O que antes eram ataques e processos privatizadores, foi substituído por repasses regulares e contratação de mais técnicos e professores. O que antes eram as nomeações de interventores não eleitos pelas comunidades universitárias, passou a ser o respeito à democracia interna destas instituições. O que antes era o ataque à faceta pública, com a ideia de que quem estudava nas universidades públicas seriam setores privilegiados da sociedade, e que estes poderiam (e deveriam) pagar por este estudo,  passou à implementação de políticas públicas de cotas, para estudantes de escolas públicas, negros e índios, mudando a cara do ensino público superior brasileiro, ampliando e pluralizando o acesso. O que antes era um mar anárquico de concepções e objetivos, passou a ter foco, com a Reforma Universitária e o REUNI.
                Foram criadas mais de uma dezena de novas universidades, dezenas de centros técnicos de ensino, foram ampliadas e interiorizadas as vagas nestas instituições, fortalecendo o desenvolvimento regional e democratizando o acesso ao ensino superior.
                Estas instituições passaram a ter mais influência social, com um ganho maior de autonomia,  enriquecendo sua atividade fim, com um entrelaçamento cada vez maior entre os setores da sociedade (público e privado) e os produtos das pesquisas e ações extensionistas. Os muros diminuíram, objetiva e subjetivamente. O número de pós-doutores, doutores e mestres cresceu vertiginosamente, assim como a quantidade e a  qualidade de cursos de pós-graduação. A relação das IFES com seus pares, dentro e fora do país, através de programas federais, através de acordos e convênios, permitiram um novo conjunto de possibilidades, aumentando, ainda mais, a imagem positiva que conseguimos ganhar de nosso país, dentro e fora das linhas de fronteira.
                Portanto, parto do pressuposto que temos um governo que valoriza o ensino público, gratuito e de qualidade, pelos fatos enumerados anteriormente.
                Ademais, precisamos avaliar, já que a greve é um instrumento, a conveniência da mesma. Esta, sem dúvida, está ligada a um balanço de prós e contras, levando em conta o conjunto dos envolvidos por esta. No caso, uma greve na universidade tem algumas características interessantes, que merecem ser iluminadas para que nada se perca nesse raciocínio.
                Em primeiro lugar, uma universidade não tem uma compleição típica fabril, em que um conjunto de pessoas trabalha para um patrão pessoal ou impessoal, produzindo mais valia, objeto do empreendimento capitalista. Sem força de trabalho o patrão é obrigado a negociar, com toda a complexidade política e jurídica que isso significa nos dias de hoje em nosso país, que possui um número grande de regras para essa situação. Numa repartição pública usual, esta paralisação também tem um conjunto de trabalhadores que param de produzir, neste caso serviços, prejudicando uma relação entre usuários e estado. Nesse segundo caso, em geral, uma parte desses serviços precisam ser garantidos, pois do contrário pessoas morreriam (caso da saúde), ou catástrofes sociais poderiam acontecer (caso da segurança ou transportes).               Mas não quero entrar no mérito deste segundo tipo, pois meu objetivo aqui é entender melhor o que se passa quando da conflagração de uma greve na Universidade Pública. Este ente diferenciado, a Instituição Pública de Ensino Superior, não tem uma relação entre usuários e estado, pelo menos não predominante. Uma IFES é composta por três segmentos: estudantes, professores e técnicos. Os estudantes têm aulas, os professores ensinam e os técnicos cuidam das tarefas operacionais, mas os professores e técnicos também estudam e os estudantes ajudam na execução das outras tarefas, como jovens pesquisadores, ou ainda como extensionistas, compondo um sistema, que serve aos interesses mais gerais de suas localidades e do Brasil, e, todos juntos, elegem juntos seus internos e ainda discutem os temas de maior relevância, através dos colegiados de Institutos e conselhos superiores. O interesse em que esse conjunto de situações e projetos continuem se dando é absolutamente difuso, mas existe, como uma vontade clara da sociedade brasileira em ser cada vez mais capaz de produzir tecnologias, ou mesmo de se entender, ou ainda, e não menos importante, construir o processo de educação dos seus.
                Ora, mesmo muito importante, esta vontade social não tem corpo, muito menos sabe verbalizar em português. Ela manifesta-se de diferentes formas, em geral quando os prejuízos vão sucedendo-se. Vamos, portanto, identificar quais são esses:
                O primeiro problema me parece ser a confusão que é criada, do ponto de vista de calendário. Como essas greves, em geral, são muito longas, e se iniciam nos primeiros meses do semestre, acaba comprometendo o mesmo. Não existe uma forma única de tratamento da questão por parte dos professores, que criam as mais diversas maneiras de repor as aulas perdidas (quando são), em geral utilizando horários diferentes e finais de semana, ou quase sempre, as férias. Portanto, além do atraso na conclusão do curso, a bagunça criada na vida de todos, o conteúdo deste fica comprometido, pelo menos em parte, sendo este, o segundo prejuízo.
                O terceiro problema é que a universidade não se resume à graduação, causando um problema concreto, além de uma contradição: a parte extensionista da universidade, boa parte dela, presta atendimento para setores da sociedade, boa parte destes carentes. Fica claro que este produto da greve é absolutamente negativo. E, ainda neste Gera também um outro problema, muito grave, em outro campo: Boa parte dos projetos têm prazo, que não leva as greves em conta.
                Com a mesma argumentação, falo da pesquisa. Estes projetos não podem parar, porque as bolsas têm prazo, os cursos de pós-graduação têm prazos e responsabilidades, e o não cumprimento destes gera consequências objetivas. Portanto a graduação para, mas a pós não. A única razão que consigo enxergar é que, para os que defendem a greve como instrumento banalizado de luta política dentro da universidade, a graduação é de uma categoria diferente da pós, para pior, é claro. Esse sentimento de que a graduação é sacrificável e a pós não, mesmo que este assunto seja escamoteado, é uma hipocrisia de grande monta.
                Terceira questão é a falta de legitimidade das entidades, no geral,  para liderar este tipo de iniciativa. No caso da ADUFPA (Associação de Docentes da Universidade Federal do Pará), a assembleia que decidiu tirar um indicativo de greve tinha 18 presentes, dentre estes alguns professores que foram menos motivados em participar e mais de observar, de um total aproximado de dois mil. Isso é absolutamente absurdo, e mais, no caso de uma universidade como a em questão, com mais de 10 campi de ensino presencial, a discussão não deveria ficar circunscrita ao Campus do Belém, como corriqueiramente acontece. Uma discussão mais profunda e democrática deveria acontecer, talvez avançando para um plebiscito, entre os docentes, para a deliberação sobre o tema. A favor, ou contra, a decisão teria  mais força, seria menos subterrânea.
                Mesmo com todos estes problemas, acredito haver momentos em que a greve se justifique, mas só em momentos muito críticos, com ampla mobilização e legitimidade, no caso de uma categoria, mas, mais corretamente, quando houvesse uma pauta única de reivindicação, que mobilizasse os três setores constitutivos, com solidariedade e cumplicidade entre estes, o que não costuma acontecer. Entre os técnicos e docentes, quando uma negociação avança para uma das duas categorias, esta volta às suas atividades esquecendo os que não foram atendidos, mostrando um pragmatismo econômico bem diferente do costumeiro discurso, sempre feito por brados politicamente corretos e com pouquíssima correspondência com o que costumamos chamar de realidade (com todos os senões filosóficos que tal palavra suscita).
                Mais uma contradição, se a greve, de fato, fosse uma forma de mobilização de pessoas que lutariam ao invés de trabalhar, talvez desse certo, mas não é o que acontece. A Universidade fica vazia, e estas pessoas, no caso professores, em geral aproveitam o tempo para dedicar-se a outros assuntos. Ficam as vanguardas, e olhe lá!
                Os estudantes dos partidos ligados aos partidos dirigentes destes sindicatos, boa parte deles do PSOL e PSTU, elaboram, sempre afetadamente, uma pauta de reivindicações que é celebrada, também afetadamente como pauta conjunta. E estes ficam com cara de tacho quando, sem nem ao menos uma satisfação, a categoria volta às aulas e as tais demandas ficam no esquecimento, colocando o movimento estudantil numa incômoda posição, que essa turma aceita tranquilamente, como bois guiados por sertanejos. Ficam na universidade, portanto, a vanguarda dos professores, fingindo que há pauta conjunta e a dos estudantes, fingindo que acreditam. Ridículo!
                Parte dos que estão lendo esse texto, imbecis esquerdistas, devem estar xingando minha oitava geração, amaldiçoando os que viabilizaram geneticamente a vinda de tamanho pelego à Terra. Ora, imbecis, meu único princípio é a Revolução Socialista, nenhum instrumento de luta me apetece em particular. Esse não é o ponto!
                Mas acredito que existem outras formas de manifestação muito mais contundentes, no apelo à tal "Opinião Pública", para criar um clima de solidariedade aos temas que estão gerando o litígio, como por exemplo, a ocupação de todos os órgãos federais do país. Em aula, as universidades, quando convencidas da importância do tema, são capazes de fazer isso, mas dá trabalho. Isso sim obrigaria o Governo Federal a negociar. As redes sociais, se bem utilizadas,podem cumprir um papel muito mais impactante que uma lenta e dolorosa greve de 3 ou 5 meses.
                O problema é que os sindicatos se acostumaram a prescindir de outros instrumentos, derivado de um claro distanciamento de suas bases, mas, principalmente, por preguiça e falta de criatividade. Com todo o respeito a estes, a universidade brasileira é muito importante para ficar a mercê de tamanha incompetência e esquerdismo.