segunda-feira, 16 de junho de 2014
Casa Grande é Coxinha
Tinha prometido não falar sobre o assunto que é o mesmo que bater palma pra palhaço...mas, o paulista mala do futebol, acertou de novo...É ódio de classe...Não há nada de político...o problema é que essa turma tem medo de povo...tem medo do que significa justiça social...tem medo de mudança...tem medo de lavar a louça, como diz o professor de Filosofia da UFPA, Roberto Barros...de acordo com ele, numa apropriação interessante de Gilberto Freire, a preguiça, que juram ser característica de índios e negros (coxinhas quase em geral...aqui excluo parte dos esquerdistas, tipo PSOL e PSTU), seria uma idiossincrasia (já me apropriando de Nietzsche) do senhor de engenho, do dono da casa, e de tudo que nela há, escravos, esposa, utensílios, filhos, animais...e que essa turma tinha alguém fazer cada uma das coisas...e que o sonho de consumo destes e de todos seria isso...esse passou a ser o alvo, passou a ser a base de motivação...e, como o senhor pode valer-se de escravos, dor, castração, para manter seu conforto doentio, todos os que estão abaixo dele na pirâmide social e pobres de espírito o suficiente para vivet sem refletir, passam a idealizar esse estágio material e espiritual, de bosta, podem valer-se de qualquer coisa (existe pouco pior que isso)....os coxinhas de direita da atualidade, em sua grande maioria, são motivados, principalmente, pelo medo da perda...Não passarão...precisamos todos fazer trabalho intelectual e manual...o tempo da casa grande e da senzala acabou...melhor acostumarem-se logo com isso, ou, de fato, o pessoal vai começar a ficar chateado...e falo de uma galera que não ficará feliz de novo com o velho, que talvez use mais que palavras nas redes sociais para garantirem que o novo tempo continue se inovando e melhorando, que podem ficar hostis, bem mais que os retardados que estão arrancando placas de trânsito...querem ajudar...bora aperfeiçoar o projeto que está em curso e fiquem pianinho...
quarta-feira, 14 de maio de 2014
A Privatização do Açaí
Pelas sombras das mangueiras Ronílson se esgueirava, procurando fugir de possíveis olhares gordos ou curiosos, e passar incólume em busca de mais uma refeição, a certeza de mais um pouco de vida, mais um pouco de açaí.
Quando criança, uma infância difícil na Cidade Velha, nem tão velha naquele tempo, a felicidade dele e dos irmãos se completava quando a mãe, após uma manhã de árduo trabalho no Ver o Peso, trazia o aguardado líquido vinho, que, somado à farinha grossa e, por vezes, a restos de peixes fritos em óleo velho, preenchiam o vazio de seus corpos famintos. Essa memória trazia tristeza, pois remetia a saudosas lembranças que este sentia da família, destroçada pela violência que aterrissou em Belém no inicio dos anos 2000, e que se agravava ano a ano. O destino de Socorro, sua mãe, e sua prole, foi definido por traficantes maranhenses que se instalaram perto de onde moravam, encrencando com alguns de seus filhos, levando-os a uma disputa que terminou com a morte de uns, a fuga de outros, abalando o resquício de sanidade que sobrava à corajosa matriarca, levando-a para uma "Casa de Descanso". Poucos meses depois, repousou permanentemente, encontrando-se com os seus já idos. As lembranças esvaiam-se, sobrando as emoções, que não eram suficientes para apagar a fome, que o impelia a receber a dose diária de seu alimento preferido.
Já avistava o Bar do Parque, vindo pelas costas do Teatro da Paz, sem que ninguém o molestasse, nem os mendigos adversários que invejavam seus patrimônios efêmeros, nem os guardas municipais, que sempre encontravam uma forma de rebaixá-lo, seja com palavras, seja com tabefes dolorosamente aplicados, em geral na região do plexo, que aumentavam a sensação do hiato estomacal, e doíam demais. A esta altura, já no calçadão principal da Praça da República, que abriga o melhor e o pior de Belém, sua história e suas vontades do presente, a diversão e a dor de um povo que, acima de tudo, é original e bem humorado, continuava em frente.
As largas calçadas e a Avenida Presidente Vargas separavam nosso herói de seu manjar. Todos os dias, por volta das onze da manhã, fazia o mesmo trajeto, saindo do porão de um dos coretos da praça, onde já morava a mais de dois anos, trilhando o percurso com o cuidado de evitar os obstáculos mencionados. O
objetivo era chegar à portaria do prédio do Banco da Amazônia, onde uma amiga de infância, que teve sorte diversa da sua, comprava um litro de açaí e meio de farinha d'água, aguardando-o, britanicamente, que chegava na hora, mais por seu desespero de subsistir, que pelo orgulho, caso do famoso predicado da cultura inglesa.
Os fins de semana, que para a maior parte das pessoas significa descanso e alegria, para ele eram uma verdadeira desgraça, pois a praça ficava cheia de pessoas e comerciantes que, além de xeretar sua casa, emporcalhavam tudo, atraindo ratos e pombos, que uns de noite e outros de dia, impediam que sua vida
fosse menos desesperadora. A mais, neste período da semana não havia expediente no BASA, causando um óbvio decréscimo em sua dieta, obrigando-o a encontrar outras fontes de calorias, em geral pouco dignas e bastante perigosas.
O sinal fechou e, em meio a multidão que anda por este local, neste horário, atravessou a rua, ansiando pelo alimento tão apreciado. Olhou por entre os vidros e madeiras que formavam a porta giratória, característica dos bancos da atualidade, enxergando sua benfeitora. Lia olhou para ele de um jeito diferente, um olhar de tristeza e decepção.
- Oi Ronílson.
- Oi Lia.
- Ronílson, tenho uma noticia chata.
- Que foi? Perguntou Ronílson
- Privatizaram o açaí.
- Como assim?
- É isso mesmo. Uma empresa japonesa está comprando, desde sexta feira, toda a produção de açaí que chega aos barcos das ilhas e dos tradicionais fornecedores, como Mojú, Abaetetuba e Igarapé-Miri. Eles estão pagando cerca de 40 reais pelo quilo, quase sete vezes mais do que os batedores costumam
desembolsar. Quem esta tomando açaí hoje é quem tem condições de garantir cerca de sessenta reais o litro do açaí médio, ou 80 reais do grosso, quase dez vezes mais do que as pessoas estavam acostumadas. Fiz questão de comprar um litro pra ti, mas esta será a última vez que poderei fazê-lo. A partir de amanhã lhe
darei uma quentinha.
Um frio subiu pelos pés de nosso amigo, alcançando a espinha e embranquecendo-o. Perdeu parte do equilíbrio e começou a cambalear. Lia, desesperada, gritou pedindo ajuda, pedido este prontamente atendido pelo segurança. Conseguiram conduzi-lo para as cadeiras laterais que jazem contíguas a parede do hall de entrada do poderoso banco verde, oferecendo-lhe água. Aos poucos sua consciência, receosa, voltava.
Sem ter assimilado o desastre estabelecido, Ronílson voltou em ritmo acelerado para sua morada e saboreou o açaí, como se fosse a ultima vez que pudesse fazê-lo. Quando acabou sua iguaria, degustada, sem nem ao menos um copo d'água, para que o gosto não fugisse de seu paladar e pudesse ser garantido o seu espaço na memória, como se pudesse, algum dia, esquecer. Logo após a última colherada, o sono chegou, pestanejou e, embalado pelas poucas, mas tristes lágrimas que desciam por seu rosto, tombou na rede.
Um sono profundo o acometeu, chegando na zona onírica, iniciando uma caminhada por vales cheios de palmeiras, verdejantes, sopradas por ventos fortes, com muitas mulheres seminuas caminhando por entres elas, lambuzadas de roxo, brincando entre si e banhando-se num caudaloso rio, comum na Região Amazônica. Todas tinham o mesmo rosto de Lia, com seu corpo magro e bem delineado, seios firmes, mas macios, exatamente como imaginava serem os de sua musa. Ele continuava sua caminhada, feliz, por estar em meio a mais açaí do que conseguiria consumir por dez vidas e na companhia de centenas de Lias, cuja única atenção dispensada servia diretamente a nosso herói. Em certo momento, sentindo calor, parou em frente ao mar doce que ondulava nas margens do grande açaizeiro, e tentou alcançar a água. Ela parecia estar perto, mas cada vez que sua mão se aproximava, ela ficava mais distante, até que este se desequilibrou e caiu.
Em meio a seu sono, três mendigos adversários seus jogaram um balde de líquido sujo em seu rosto, acordando-o do melhor sonho que já havia sonhado, e onde ele gostaria de ter ficado para sempre. Sua primeira reação foi pegar o pedaço de ferro que guardava para proteger-se e dar no rosto do primeiro arruaceiro, cuja vida esvaiu-se na hora, espantando os demais, que saíram ralhando palavras mais ininteligíveis que o normal. A esta hora Ronílson já entendia a pendenga em que tinha se metido, esqueceu todo o pouco de coisas que tinha sob sua propriedade e saiu em corrida sem direção. Em sua cabeça jaziam as Lias, o açaí e o rosto do mendigo atingido por sua fúria, além dos sons de buzina, as risadas e pássaros que se misturavam na grande praça, nesse início de final de tarde.
Seu rumo, desrrumado, o levava à fonte do mal originário deste malfadado dia: o mercado do Ver-o-Peso, mundialmente famoso por ser o maior comércio popular concentrado de toda a Floresta Amazônica e, que antigamente, era espaço da Alfândega Imperial fazer a vista no peso dos gêneros comercializados a partir dali, ganhando este nome em função disso. Lá é que deveriam estar os seus antagonistas, os responsáveis por piorar sua vida, que não era das mais confortáveis. Seu ódio alimentava o organismo debilitado, injetando adrenalina e fazendo-o correr cada vez mais rápido pela Avenida Presidente Vargas, na contramão, levando-o até a Estação das Docas, espacialmente junta ao Veropa (termo utilizado pelos paraenses que gostam de ser íntimos do dito mercado).
Os pontos de ônibus cheios de gente, os carros, nada disso foi obstáculo para sua obstinação em fazer algo para mostrar que desaprovava a ação nipônica, externando algo internalizado por décadas: sua indignação com a situação a que ele e sua família foram empurrados e a indiferença que a sociedade manifestou, não se manifestando sobre o assunto.
Já em frente ao complexo e rico centro de vendas, seus olhos angustiados escaneavam a feira anárquica em busca de seus algozes. Avistou, de longe, um movimento anormal, com muito barulho e gritaria vindos do ancoradouro. Chegando mais perto, avistou uma carreta de certo porte, cheia de açaí e japoneses gritando ensandecidos com o motorista, que parecia estar fazendo algo bem diferente do combinado. Hipnotizado pela quantidade de frutos sendo carregados no veículo, Ronílson avançou em direção a cena peculiar.
Em frente aos malditos japoneses surrupiadores, ele se pôs a falar:
- Seus desgraçados! Vocês transformam tudo em negocio! Estão arruinando a vida de centenas de milhares de pessoas como eu, que cresceram tomando açaí e que não sabem viver sem este alimento. Porque vocês não vão mexer com seus frutos, seus animais, seu mar? Por que precisam vir ate aqui e trazer a infelicidade, a ganância, fazendo-nos mais pobres, levando embora nosso maior patrimônio.
Ao mesmo tempo em que falava, gesticulava, chamando a atenção de todos os que ali se encontravam, chegava mais perto do fim da carreta, que estava a receber os derradeiros carregamentos. Suas palavras tocaram no fundo da alma dos paraenses que trabalham diariamente naquele lugar, transtornados com os gritos pouco amistosos que os gringos bradavam contra eles e seus parentes.
Passo a passo, aproximavam-se, vibrando de forma parecida, com um misto de obstinação e hostilidade, chegando perto de nosso herói.
- Meus amigos. Por que deixaremos essa turma fazer conosco o que querem, sem ao menos protestar? Não deixarei nem mais um único fruto sair daqui e aqueles que estiverem comigo, juntem-se nesta luta.
Já em torno do líder, a população iniciou ataques tímidos, verbais e físicos, aos japoneses e a seu veiculo abarrotado de açaí. Alguns chutavam as portas, outros escalavam a carroceria, um bom número deles avançava fisicamente contra os orientais que, atônitos, batiam em retirada, aos poucos, na esperança de que alguém recobrasse a consciência e impedisse-os de continuar seu intuito pouco claro, mas bastante violento.
A multidão aumentou, ficou mais alvoroçada e começou a balançar a carreta, que mal se mexia no inicio, mas devagar, pouco a pouco, embalava e já ameaçava tombar. Como na vida real tudo que pode acontecer de ruim, em geral acaba acontecendo pior, esta cena não fugiu a regra, esmagando cerca de sete pessoas, dentre elas, Ronílson.
A polícia finalmente se mexeu e foi ajudar, já com os irritantes sons das sirenes de ambulâncias e viaturas dos bombeiros, além dos gritos de mulheres e crianças que já choravam a possível morte de seus maridos e pais. Um dos japoneses não conseguiu escapar, recebendo a fúria de uma turba disposta a deixar pouco para seus entes enterrarem. Concomitante a isso, pessoas cavavam no açaí em busca dos corpos soterrados.
Caminhando pelos caminhos de açaizeiros, feliz em olhar de relance a beleza das centenas de Lias que corriam e brincavam, inspirado pelo som das águas e o toque dos ventos que o circulavam sinestesicamente, Ronílson viu, de longe, sua mãe. Mais à frente, um por um, seus irmãos foram aparecendo, sorrindo, alegres em vê-lo, pela graça de estarem em família, por estarem no paraíso. O olhar sereno de Dona Socorro e a certeza da fartura, de amor e alimento, trouxeram paz a seu coração, eliminando a lembrança da frustração e falta. Ele podia descansar livre, entregou-se para a felicidade.
Quando criança, uma infância difícil na Cidade Velha, nem tão velha naquele tempo, a felicidade dele e dos irmãos se completava quando a mãe, após uma manhã de árduo trabalho no Ver o Peso, trazia o aguardado líquido vinho, que, somado à farinha grossa e, por vezes, a restos de peixes fritos em óleo velho, preenchiam o vazio de seus corpos famintos. Essa memória trazia tristeza, pois remetia a saudosas lembranças que este sentia da família, destroçada pela violência que aterrissou em Belém no inicio dos anos 2000, e que se agravava ano a ano. O destino de Socorro, sua mãe, e sua prole, foi definido por traficantes maranhenses que se instalaram perto de onde moravam, encrencando com alguns de seus filhos, levando-os a uma disputa que terminou com a morte de uns, a fuga de outros, abalando o resquício de sanidade que sobrava à corajosa matriarca, levando-a para uma "Casa de Descanso". Poucos meses depois, repousou permanentemente, encontrando-se com os seus já idos. As lembranças esvaiam-se, sobrando as emoções, que não eram suficientes para apagar a fome, que o impelia a receber a dose diária de seu alimento preferido.
Já avistava o Bar do Parque, vindo pelas costas do Teatro da Paz, sem que ninguém o molestasse, nem os mendigos adversários que invejavam seus patrimônios efêmeros, nem os guardas municipais, que sempre encontravam uma forma de rebaixá-lo, seja com palavras, seja com tabefes dolorosamente aplicados, em geral na região do plexo, que aumentavam a sensação do hiato estomacal, e doíam demais. A esta altura, já no calçadão principal da Praça da República, que abriga o melhor e o pior de Belém, sua história e suas vontades do presente, a diversão e a dor de um povo que, acima de tudo, é original e bem humorado, continuava em frente.
As largas calçadas e a Avenida Presidente Vargas separavam nosso herói de seu manjar. Todos os dias, por volta das onze da manhã, fazia o mesmo trajeto, saindo do porão de um dos coretos da praça, onde já morava a mais de dois anos, trilhando o percurso com o cuidado de evitar os obstáculos mencionados. O
objetivo era chegar à portaria do prédio do Banco da Amazônia, onde uma amiga de infância, que teve sorte diversa da sua, comprava um litro de açaí e meio de farinha d'água, aguardando-o, britanicamente, que chegava na hora, mais por seu desespero de subsistir, que pelo orgulho, caso do famoso predicado da cultura inglesa.
Os fins de semana, que para a maior parte das pessoas significa descanso e alegria, para ele eram uma verdadeira desgraça, pois a praça ficava cheia de pessoas e comerciantes que, além de xeretar sua casa, emporcalhavam tudo, atraindo ratos e pombos, que uns de noite e outros de dia, impediam que sua vida
fosse menos desesperadora. A mais, neste período da semana não havia expediente no BASA, causando um óbvio decréscimo em sua dieta, obrigando-o a encontrar outras fontes de calorias, em geral pouco dignas e bastante perigosas.
O sinal fechou e, em meio a multidão que anda por este local, neste horário, atravessou a rua, ansiando pelo alimento tão apreciado. Olhou por entre os vidros e madeiras que formavam a porta giratória, característica dos bancos da atualidade, enxergando sua benfeitora. Lia olhou para ele de um jeito diferente, um olhar de tristeza e decepção.
- Oi Ronílson.
- Oi Lia.
- Ronílson, tenho uma noticia chata.
- Que foi? Perguntou Ronílson
- Privatizaram o açaí.
- Como assim?
- É isso mesmo. Uma empresa japonesa está comprando, desde sexta feira, toda a produção de açaí que chega aos barcos das ilhas e dos tradicionais fornecedores, como Mojú, Abaetetuba e Igarapé-Miri. Eles estão pagando cerca de 40 reais pelo quilo, quase sete vezes mais do que os batedores costumam
desembolsar. Quem esta tomando açaí hoje é quem tem condições de garantir cerca de sessenta reais o litro do açaí médio, ou 80 reais do grosso, quase dez vezes mais do que as pessoas estavam acostumadas. Fiz questão de comprar um litro pra ti, mas esta será a última vez que poderei fazê-lo. A partir de amanhã lhe
darei uma quentinha.
Um frio subiu pelos pés de nosso amigo, alcançando a espinha e embranquecendo-o. Perdeu parte do equilíbrio e começou a cambalear. Lia, desesperada, gritou pedindo ajuda, pedido este prontamente atendido pelo segurança. Conseguiram conduzi-lo para as cadeiras laterais que jazem contíguas a parede do hall de entrada do poderoso banco verde, oferecendo-lhe água. Aos poucos sua consciência, receosa, voltava.
Sem ter assimilado o desastre estabelecido, Ronílson voltou em ritmo acelerado para sua morada e saboreou o açaí, como se fosse a ultima vez que pudesse fazê-lo. Quando acabou sua iguaria, degustada, sem nem ao menos um copo d'água, para que o gosto não fugisse de seu paladar e pudesse ser garantido o seu espaço na memória, como se pudesse, algum dia, esquecer. Logo após a última colherada, o sono chegou, pestanejou e, embalado pelas poucas, mas tristes lágrimas que desciam por seu rosto, tombou na rede.
Um sono profundo o acometeu, chegando na zona onírica, iniciando uma caminhada por vales cheios de palmeiras, verdejantes, sopradas por ventos fortes, com muitas mulheres seminuas caminhando por entres elas, lambuzadas de roxo, brincando entre si e banhando-se num caudaloso rio, comum na Região Amazônica. Todas tinham o mesmo rosto de Lia, com seu corpo magro e bem delineado, seios firmes, mas macios, exatamente como imaginava serem os de sua musa. Ele continuava sua caminhada, feliz, por estar em meio a mais açaí do que conseguiria consumir por dez vidas e na companhia de centenas de Lias, cuja única atenção dispensada servia diretamente a nosso herói. Em certo momento, sentindo calor, parou em frente ao mar doce que ondulava nas margens do grande açaizeiro, e tentou alcançar a água. Ela parecia estar perto, mas cada vez que sua mão se aproximava, ela ficava mais distante, até que este se desequilibrou e caiu.
Em meio a seu sono, três mendigos adversários seus jogaram um balde de líquido sujo em seu rosto, acordando-o do melhor sonho que já havia sonhado, e onde ele gostaria de ter ficado para sempre. Sua primeira reação foi pegar o pedaço de ferro que guardava para proteger-se e dar no rosto do primeiro arruaceiro, cuja vida esvaiu-se na hora, espantando os demais, que saíram ralhando palavras mais ininteligíveis que o normal. A esta hora Ronílson já entendia a pendenga em que tinha se metido, esqueceu todo o pouco de coisas que tinha sob sua propriedade e saiu em corrida sem direção. Em sua cabeça jaziam as Lias, o açaí e o rosto do mendigo atingido por sua fúria, além dos sons de buzina, as risadas e pássaros que se misturavam na grande praça, nesse início de final de tarde.
Seu rumo, desrrumado, o levava à fonte do mal originário deste malfadado dia: o mercado do Ver-o-Peso, mundialmente famoso por ser o maior comércio popular concentrado de toda a Floresta Amazônica e, que antigamente, era espaço da Alfândega Imperial fazer a vista no peso dos gêneros comercializados a partir dali, ganhando este nome em função disso. Lá é que deveriam estar os seus antagonistas, os responsáveis por piorar sua vida, que não era das mais confortáveis. Seu ódio alimentava o organismo debilitado, injetando adrenalina e fazendo-o correr cada vez mais rápido pela Avenida Presidente Vargas, na contramão, levando-o até a Estação das Docas, espacialmente junta ao Veropa (termo utilizado pelos paraenses que gostam de ser íntimos do dito mercado).
Os pontos de ônibus cheios de gente, os carros, nada disso foi obstáculo para sua obstinação em fazer algo para mostrar que desaprovava a ação nipônica, externando algo internalizado por décadas: sua indignação com a situação a que ele e sua família foram empurrados e a indiferença que a sociedade manifestou, não se manifestando sobre o assunto.
Já em frente ao complexo e rico centro de vendas, seus olhos angustiados escaneavam a feira anárquica em busca de seus algozes. Avistou, de longe, um movimento anormal, com muito barulho e gritaria vindos do ancoradouro. Chegando mais perto, avistou uma carreta de certo porte, cheia de açaí e japoneses gritando ensandecidos com o motorista, que parecia estar fazendo algo bem diferente do combinado. Hipnotizado pela quantidade de frutos sendo carregados no veículo, Ronílson avançou em direção a cena peculiar.
Em frente aos malditos japoneses surrupiadores, ele se pôs a falar:
- Seus desgraçados! Vocês transformam tudo em negocio! Estão arruinando a vida de centenas de milhares de pessoas como eu, que cresceram tomando açaí e que não sabem viver sem este alimento. Porque vocês não vão mexer com seus frutos, seus animais, seu mar? Por que precisam vir ate aqui e trazer a infelicidade, a ganância, fazendo-nos mais pobres, levando embora nosso maior patrimônio.
Ao mesmo tempo em que falava, gesticulava, chamando a atenção de todos os que ali se encontravam, chegava mais perto do fim da carreta, que estava a receber os derradeiros carregamentos. Suas palavras tocaram no fundo da alma dos paraenses que trabalham diariamente naquele lugar, transtornados com os gritos pouco amistosos que os gringos bradavam contra eles e seus parentes.
Passo a passo, aproximavam-se, vibrando de forma parecida, com um misto de obstinação e hostilidade, chegando perto de nosso herói.
- Meus amigos. Por que deixaremos essa turma fazer conosco o que querem, sem ao menos protestar? Não deixarei nem mais um único fruto sair daqui e aqueles que estiverem comigo, juntem-se nesta luta.
Já em torno do líder, a população iniciou ataques tímidos, verbais e físicos, aos japoneses e a seu veiculo abarrotado de açaí. Alguns chutavam as portas, outros escalavam a carroceria, um bom número deles avançava fisicamente contra os orientais que, atônitos, batiam em retirada, aos poucos, na esperança de que alguém recobrasse a consciência e impedisse-os de continuar seu intuito pouco claro, mas bastante violento.
A multidão aumentou, ficou mais alvoroçada e começou a balançar a carreta, que mal se mexia no inicio, mas devagar, pouco a pouco, embalava e já ameaçava tombar. Como na vida real tudo que pode acontecer de ruim, em geral acaba acontecendo pior, esta cena não fugiu a regra, esmagando cerca de sete pessoas, dentre elas, Ronílson.
A polícia finalmente se mexeu e foi ajudar, já com os irritantes sons das sirenes de ambulâncias e viaturas dos bombeiros, além dos gritos de mulheres e crianças que já choravam a possível morte de seus maridos e pais. Um dos japoneses não conseguiu escapar, recebendo a fúria de uma turba disposta a deixar pouco para seus entes enterrarem. Concomitante a isso, pessoas cavavam no açaí em busca dos corpos soterrados.
Caminhando pelos caminhos de açaizeiros, feliz em olhar de relance a beleza das centenas de Lias que corriam e brincavam, inspirado pelo som das águas e o toque dos ventos que o circulavam sinestesicamente, Ronílson viu, de longe, sua mãe. Mais à frente, um por um, seus irmãos foram aparecendo, sorrindo, alegres em vê-lo, pela graça de estarem em família, por estarem no paraíso. O olhar sereno de Dona Socorro e a certeza da fartura, de amor e alimento, trouxeram paz a seu coração, eliminando a lembrança da frustração e falta. Ele podia descansar livre, entregou-se para a felicidade.
quarta-feira, 9 de abril de 2014
SOBRE A GREVE NAS UNIVERSIDADES
por
Alan Frick
graduando em Filosofia
pela UFPA
Conselheiro
Universitário Discente da UFPA
Ex-Conselheiro
Universitário Discente pela UFF
Ex-presidente da UEE-RJ
(União Estadual dos Estudantes do Rio de Janeiro)
Ex- vice presidente RJ da UNE ( União Nacional dos Estudantes)
Depois de uma discussão com uma
professora, chamada Verônica (FILOSOFIA UFPA), em sala aula, me inspirei a
escrever este texto. Esta, em um de seus muitos momentos de infelicidade
pedagógica, no ensino de práticas pedagógicas para professores de filosofia,
parou a aula. Antes de passar um vídeo sobre a história de um templo com
esculturas tântricas na Índia, disse estar feliz porque o ANDES havia decidido
iniciar um movimento grevista nacional: "temos de aproveitar o momento de
fragilidade do governo para desgastá-lo ainda mais". Por motivos óbvios pedi
a palavra, prontamente negada, mas não antes que eu dissesse considerar esta
postura um abuso de seu poder professoral do discurso, levantando uma questão polêmica
sem oportunizar o contraditório. Esta retrucou, dizendo que eu era grande
demais e minha voz muito alta. Pela lógica anões e crianças deveriam ter
imunidade parlamentar.
Mas
entrando no que me proponho a tratar, este movimento grevista anunciado pela
educadora:
Uma
greve significa, em termos de senso comum, uma paralisação de trabalhadores com
vistas a um fim, normalmente, salarial. Existem outros tipos de greve, como
políticas, com o objetivo de desestabilizar ou mudar mandatários, em geral
conduzidas por várias categorias e locais geográficos distintos. Existem as
greves de estudantis que lutam por melhores condições de aula, ou transporte,
ou outras dezenas de exemplos da mesma natureza. Ainda existem greves de fome em
que apela-se para o emocional de uma ou mais pessoas, ou greves íntimas, caso
que os cônjuges conhecem bem o significado.
O que
fica claro aqui é que a greve não é um ente desprovido de contexto ou motivos,
sendo, portanto, um instrumento de luta, que pode servir a diferentes
segmentos ou classes sociais, ou ainda
com naturezas ideológicas distintas. A Greve do Porto de Santos, quando os
trabalhadores, liderados pelo partido comunista, recusaram-se a carregar os
navios de café, que seguiriam para o abastecimento do Regime Franquista na
Espanha, ou ainda, em outro extremo, a greve dos engenheiros da PDVSA, em 2002,
quando houve uma das diversas tentativas da direita venezuelana desestabilizar
o governo e a liderança de Hugo Chávez.
Estes
dois últimos parágrafos servem para desarmar os imbecis esquerdistas, que
provavelmente me chamarão por alcunhas pejorativas por escrever este texto. A
greve não é boa ou má, positiva ou negativa, de luta ou pelega, por natureza, depende
de suas razões, de seus agentes, mas, repito, a greve é um, e quero frisar este
artigo "um", dos instrumentos disponíveis para a classe trabalhadora,
na busca de seus legítimos interesses.
Durante
o Governo de Fernando Henrique Cardoso, a universidade pública brasileira,
assim como o restante da máquina administrativa, ficou em xeque. O melhor,
segundo o pensamento neoliberal, seria liberar para as regras de mercado boa
parte das tarefas que, historicamente, foram desempenhadas pelo estado.
Assuntos como saúde, educação, comunicação, transportes e geração de energia, estratégicos para qualquer país, seriam
melhor executados, como políticas públicas, se feitos por particulares, com o
acompanhamento de entes supra estatais (agências reguladoras), que agiriam
quando o mercado não desse conta de regular tudo. E assim ficou sustentada
ideologicamente, no Brasil, e em boa
parte de nosso continente, a sanha privatizadora.
Este
período acabou com a vitória das forças progressistas lideradas por Lula, que
estabeleceu uma ordem diferenciada na perspectiva educacional, vista pelos
tucanos como gastos e esforço estatal desnecessário, passando a ser encarada
como investimento. O que antes eram ataques e processos privatizadores, foi
substituído por repasses regulares e contratação de mais técnicos e
professores. O que antes eram as nomeações de interventores não eleitos pelas
comunidades universitárias, passou a ser o respeito à democracia interna destas
instituições. O que antes era o ataque à faceta pública, com a ideia de que
quem estudava nas universidades públicas seriam setores privilegiados da
sociedade, e que estes poderiam (e deveriam) pagar por este estudo, passou à implementação de políticas públicas
de cotas, para estudantes de escolas públicas, negros e índios, mudando a cara
do ensino público superior brasileiro, ampliando e pluralizando o acesso. O que
antes era um mar anárquico de concepções e objetivos, passou a ter foco, com a
Reforma Universitária e o REUNI.
Foram
criadas mais de uma dezena de novas universidades, dezenas de centros técnicos
de ensino, foram ampliadas e interiorizadas as vagas nestas instituições,
fortalecendo o desenvolvimento regional e democratizando o acesso ao ensino
superior.
Estas
instituições passaram a ter mais influência social, com um ganho maior de
autonomia, enriquecendo sua atividade
fim, com um entrelaçamento cada vez maior entre os setores da sociedade
(público e privado) e os produtos das pesquisas e ações extensionistas. Os
muros diminuíram, objetiva e subjetivamente. O número de pós-doutores, doutores
e mestres cresceu vertiginosamente, assim como a quantidade e a qualidade de cursos de pós-graduação. A
relação das IFES com seus pares, dentro e fora do país, através de programas
federais, através de acordos e convênios, permitiram um novo conjunto de possibilidades, aumentando, ainda mais, a imagem positiva que conseguimos ganhar de nosso país, dentro e fora das linhas de fronteira.
Portanto,
parto do pressuposto que temos um governo que valoriza o ensino público,
gratuito e de qualidade, pelos fatos enumerados anteriormente.
Ademais,
precisamos avaliar, já que a greve é um instrumento, a conveniência da mesma.
Esta, sem dúvida, está ligada a um balanço de prós e contras, levando em conta
o conjunto dos envolvidos por esta. No caso, uma greve na universidade tem
algumas características interessantes, que merecem ser iluminadas para que nada
se perca nesse raciocínio.
Em
primeiro lugar, uma universidade não tem uma compleição típica fabril, em que
um conjunto de pessoas trabalha para um patrão pessoal ou impessoal, produzindo
mais valia, objeto do empreendimento capitalista. Sem força de trabalho o
patrão é obrigado a negociar, com toda a complexidade política e jurídica que isso
significa nos dias de hoje em nosso país, que possui um número grande de regras
para essa situação. Numa repartição pública usual, esta paralisação também tem
um conjunto de trabalhadores que param de produzir, neste caso serviços,
prejudicando uma relação entre usuários e estado. Nesse segundo caso, em geral,
uma parte desses serviços precisam ser garantidos, pois do contrário pessoas
morreriam (caso da saúde), ou catástrofes sociais poderiam acontecer (caso da
segurança ou transportes). Mas
não quero entrar no mérito deste segundo tipo, pois meu objetivo aqui é
entender melhor o que se passa quando da conflagração de uma greve na
Universidade Pública. Este ente diferenciado, a Instituição Pública de Ensino
Superior, não tem uma relação entre usuários e estado, pelo menos não
predominante. Uma IFES é composta por três segmentos: estudantes, professores e
técnicos. Os estudantes têm aulas, os professores ensinam e os técnicos cuidam
das tarefas operacionais, mas os professores e técnicos também estudam e os estudantes
ajudam na execução das outras tarefas, como jovens pesquisadores, ou ainda como
extensionistas, compondo um sistema, que serve aos interesses mais gerais de suas localidades e do Brasil, e, todos juntos, elegem juntos seus internos e ainda
discutem os temas de maior relevância, através dos colegiados de Institutos e
conselhos superiores. O interesse em que esse conjunto de situações e projetos
continuem se dando é absolutamente difuso, mas existe, como uma vontade clara
da sociedade brasileira em ser cada vez mais capaz de produzir tecnologias, ou
mesmo de se entender, ou ainda, e não menos importante, construir o processo de
educação dos seus.
Ora,
mesmo muito importante, esta vontade social não tem corpo, muito menos sabe
verbalizar em português. Ela manifesta-se de diferentes formas, em geral quando
os prejuízos vão sucedendo-se. Vamos, portanto, identificar quais são esses:
O
primeiro problema me parece ser a confusão que é criada, do ponto de vista de
calendário. Como essas greves, em geral, são muito longas, e se iniciam nos
primeiros meses do semestre, acaba comprometendo o mesmo. Não existe uma forma única
de tratamento da questão por parte dos professores, que criam as mais diversas
maneiras de repor as aulas perdidas (quando são), em geral utilizando horários
diferentes e finais de semana, ou quase sempre, as férias. Portanto, além do
atraso na conclusão do curso, a bagunça criada na vida de todos, o conteúdo
deste fica comprometido, pelo menos em parte, sendo este, o segundo prejuízo.
O
terceiro problema é que a universidade não se resume à graduação, causando um
problema concreto, além de uma contradição: a parte extensionista da
universidade, boa parte dela, presta atendimento para setores da sociedade, boa
parte destes carentes. Fica claro que este produto da greve é absolutamente
negativo. E, ainda neste Gera também um outro problema, muito grave, em outro
campo: Boa parte dos projetos têm prazo, que não leva as greves em conta.
Com a
mesma argumentação, falo da pesquisa. Estes projetos não podem parar, porque as
bolsas têm prazo, os cursos de pós-graduação têm prazos e responsabilidades, e
o não cumprimento destes gera consequências objetivas. Portanto a graduação
para, mas a pós não. A única razão que consigo enxergar é que, para os que
defendem a greve como instrumento banalizado de luta política dentro da
universidade, a graduação é de uma categoria diferente da pós, para pior, é
claro. Esse sentimento de que a graduação é sacrificável e a pós não, mesmo que
este assunto seja escamoteado, é uma hipocrisia de grande monta.
Terceira
questão é a falta de legitimidade das entidades, no geral, para liderar este
tipo de iniciativa. No caso da ADUFPA (Associação de Docentes da Universidade
Federal do Pará), a assembleia que decidiu tirar um indicativo de greve tinha
18 presentes, dentre estes alguns professores que foram menos motivados em
participar e mais de observar, de um total aproximado de dois mil. Isso é
absolutamente absurdo, e mais, no caso de uma universidade como a em questão,
com mais de 10 campi de ensino presencial, a discussão não deveria ficar
circunscrita ao Campus do Belém, como corriqueiramente acontece. Uma discussão
mais profunda e democrática deveria acontecer, talvez avançando para um
plebiscito, entre os docentes, para a deliberação sobre o tema. A favor, ou
contra, a decisão teria mais força,
seria menos subterrânea.
Mesmo
com todos estes problemas, acredito haver momentos em que a greve se
justifique, mas só em momentos muito críticos, com ampla mobilização e
legitimidade, no caso de uma categoria, mas, mais corretamente, quando houvesse
uma pauta única de reivindicação, que mobilizasse os três setores
constitutivos, com solidariedade e cumplicidade entre estes, o que não costuma
acontecer. Entre os técnicos e docentes, quando uma negociação avança para uma das
duas categorias, esta volta às suas atividades esquecendo os que não foram atendidos,
mostrando um pragmatismo econômico bem diferente do costumeiro discurso, sempre
feito por brados politicamente corretos e com pouquíssima correspondência com o
que costumamos chamar de realidade (com todos os senões filosóficos que tal
palavra suscita).
Mais uma
contradição, se a greve, de fato, fosse uma forma de mobilização de pessoas que
lutariam ao invés de trabalhar, talvez desse certo, mas não é o que acontece. A
Universidade fica vazia, e estas pessoas, no caso professores, em geral
aproveitam o tempo para dedicar-se a outros assuntos. Ficam as vanguardas, e
olhe lá!
Os
estudantes dos partidos ligados aos partidos dirigentes destes sindicatos, boa
parte deles do PSOL e PSTU, elaboram, sempre afetadamente, uma pauta de reivindicações
que é celebrada, também afetadamente como pauta conjunta. E estes ficam com
cara de tacho quando, sem nem ao menos uma satisfação, a categoria volta às
aulas e as tais demandas ficam no esquecimento, colocando o movimento estudantil
numa incômoda posição, que essa turma aceita tranquilamente, como bois guiados
por sertanejos. Ficam na universidade, portanto, a vanguarda dos professores, fingindo
que há pauta conjunta e a dos estudantes, fingindo que acreditam. Ridículo!
Parte
dos que estão lendo esse texto, imbecis esquerdistas, devem estar xingando
minha oitava geração, amaldiçoando os que viabilizaram geneticamente a vinda de
tamanho pelego à Terra. Ora, imbecis, meu único princípio é a Revolução
Socialista, nenhum instrumento de luta me apetece em particular. Esse não é o
ponto!
Mas
acredito que existem outras formas de manifestação muito mais contundentes, no
apelo à tal "Opinião Pública", para criar um clima de solidariedade
aos temas que estão gerando o litígio, como por exemplo, a ocupação de todos os
órgãos federais do país. Em aula, as universidades, quando convencidas da importância
do tema, são capazes de fazer isso, mas dá trabalho. Isso sim obrigaria o
Governo Federal a negociar. As redes sociais, se bem utilizadas,podem cumprir
um papel muito mais impactante que uma lenta e dolorosa greve de 3 ou 5 meses.
O
problema é que os sindicatos se acostumaram a prescindir de outros
instrumentos, derivado de um claro distanciamento de suas bases, mas,
principalmente, por preguiça e falta de criatividade. Com todo o respeito a
estes, a universidade brasileira é muito importante para ficar a mercê de
tamanha incompetência e esquerdismo.
sábado, 31 de agosto de 2013
Carta para Chiquinho
Na semana passada escrevi um artigo intitulado: HIPOCRISIA OU HIPÓCRATES, EIS A QUESTÃO. Recebi muitos acenos positivos e muitos negativos, destes negativos, alem de uma discussão com uma Tia minha, muito querida por sinal, recebi o link de um vídeo, tanto no perfil quanto na fanpage, de um amigo de longa data, Franciso Milosky. Boa praça, competitivo e muito inteligente, medico formado pela UNIRIO, se não me engano nefrologista.Achei o sujeito fraco e pedante, mas em respeito a nossa amizade, apos assistir ao vídeo, escrevo as linhas que seguem.
O autor do vídeo autointitula-se PROFESSOR DORIVAL NA POLITICA.
Vou proceder da seguinte forma, citarei, literalmente, o dito cujo e apos isso emitirei minha opinião.
Vamos pensar no problema mais médicos e sobre o problema de saúde do Brasil. O Governo alega que faltam médicos em algumas localidades do interior, e realmente faltam, mas o que o governo não faz e explicar as causas disso acontecer, divulgam altos salários fazendo os médicos parecerem insensíveis, pois estes, mesmo bem remunerados, não querem ir para o interior. Há razoes para os médicos não irem para o interior, mas não vou me aprofundar aqui sobre este tema, pois o vídeo vai ficar muito longo. (PROFESSOR DORIVAL)
Eu pararia logo nesse inicio de argumentação. Bom, quando uma pessoa grava um vídeo, com o principal objetivo de falar sobre o PROGRAMA MAIS MÉDICOS, afirmando que o governo não ataca as causas do problema, que estas seriam centrais na discussão e, segundos depois, afirma existirem causas, mas que não falara sobre estas para que o vídeo não fique enfadonho, esta pessoa ta mau intencionada, seja porque quer nos enganar, ou porque não respeita nossa faculdade cognitiva, ou ainda, mais provavelmente, as duas .
Ora bolas, o central na discussão são as razoes pelas quais existe o problema, real, da falta de profissionais de medicina no interior.
Vou citar apenas uma razão para o medico não ir para o interior: diferentemente da magistratura, que tem um plano de carreira (e uma carreira publica, de estado), em que vão para o interior mas haverá uma progressão (dando a entender que um dia voltarão para a cidade grande). Já os médicos são JOGADOS no interior (aqui parece que o interior e uma cova de leões), com contratos que muitas vezes não são pagos, porque os prefeitos roubam os recursos. (PROFESSOR DORIVAL)
Aqui ele diz que a única razão pela qual o medico não vai para o interior e que ele não poderá sair de la nunca mais, pois não existe plano de carreira. Estranho escutar falar em plano de carreira ou carreira de estado, vindo de alguém que preza tanto pelas politicas neoliberais do PSDB. E bom lembrarmos que o que sobrou da gana privatizadora do PSDB foram as Universidades Publicas (você deve se lembrar que em algumas delas, como a UFMG. as mensalidades ja estavam em processo de consolidação) a Petrobras, a Caixa e o BB. Mas concordo com ele, a medicina deveria ter espaço mais destacado entre as carreiras publicas.
Ele diz que precisa contextualizar o problema, e desanda a verborragizar chavões da direita, de que o modelo pensado por Lula estaria esgotado. Que há gargalos profundos na infra-estrutura, legislação e carga tributaria que diminuem nossa capacidade de operação. Alega que economia não cresce por opção estratégica, baseando-o no consumo.
A economia não vai bem pois o modelo de consumo implantado por Dilma chegou ao seu limite, estagnando a economia e trazendo de volta a inflação,a saúde publica e ruim, todos sabem, e isso incomoda o PT porque com José Serra e FHC a saúde avançou. Ao invés de atacar a causa do problema prefere culpar os médicos. (PROFESSOR DORIVAL)
Bom, vamos por partes:
1- o modelo econômico do Lula, não difere da maioria dos países capitalistas, a diferença foi o rompimento, em parte, com o modelo neoliberal, que estava privatizando tudo, diminuindo a capacidade operativa do estado e marcando o passo do desenvolvimento brasileiro a partir das instruções e comandos do Fundo Monetário Internacional, preterindo as alianças regionais, como MERCOSUL, ou as bilaterais, menos com os EUA, cujos planos de implementação da ALCA e a venda da base de Alcântara eram os sonhos do patife FHC e sua turma, incluídos ai José Serra, Aécio Neves, Sérgio Mota, Paulo Renato, Antônio Carlos Magalhães e turminha limitada.
2- O que ficou latente no Governo Lula foram duas prioridades: em primeiro lugar, tirar da pobreza o máximo de famílias brasileiras, incluindo-as no mercado de trabalho, e, por conseguinte, de consumo, alem do valor agregado ao poder aquisitivo destas, advindos das politicas compensatórias, como o Bolsa Família. algumas dezenas de milhões de pessoas passaram a viver melhor e movimentar a economia...em segundo lugar ter uma politica internacional altiva, capaz de reconhecer nosso melhores atributos e utiliza-los de forma soberana, conquistando a liderança no processo de integração latino americana e articulando-se com os demais países em franco desenvolvimento, como Rússia, China, Índia e Africa do Sul (BRICS), alem de acordos importantes com a Africa e Europa, aquecendo a economia e elevando a auto estima do brasileiro. Pelo menos funcionou comigo.
3- A infra estrutura medíocre existente e uma realidade. Lula não priorizou o assunto, da forma como este merece. Mas, do segundo mandato para o fim colocou uma gerente boa de briga chamada Dilma Roussef para coordenar um programa chamado Plano de Aceleração do Crescimento, que tornou-se a prioridade de seu fim de mandato e a atual prioridade do governo da gaucha-mineira. São inúmeras as iniciativas em franca execução, que demonstram a coerência entre discurso e pratica. Exemplos disso são a ferrovia norte-sul, a construção das eclusas de Tucuruí ou mesmo as reformas e ampliações dos aeroportos.
4- A segunda prioridade do Governo Dilma, a educação, com o aumento exponencial do das vagas nas universidades publicas, aumento das vagas do PROUNI e a implementação do PRONATEC. Alem disso, há o comprometimento pessoal da presidenta para que 50% dos recurso advindos dos royalties do pre-sal, venham a ser investidos na educação. Esta me parece a medida mais importante para que nosso processo de desenvolvimento siga seu curso, garantindo mão de obra qualificada para novos empreendimentos e uma população cada vez mais capaz de escolher os melhores caminhos em busca da felicidade.
5- Ele tem razão quando diz que José Serra fez uma boa gestão no Ministério da Saúde, claro, sem levarmos em conta os escândalos de corrupção, como no caso das ambulâncias. Mas não houve recuo, pelo contrario. Os sistemas de saúde preventiva avançaram bastante, alem dos investimentos em saneamento básico, que tem consequências diretas na vida das pessoas, mas não sou especialista na área para comparar.
Bom, no final, já sem nexo entre argumentos soltos, tendo como único conectivo uma ira direcionada contra coisas que partam do que se entende por esquerda, ele inicia uma discussão sobre os cortes na saúde, que seriam a causa do caos no SUS. Ora bolas, mais uma vez. Vale lembrar que a CPMF, criada no governo FH, que destinava mais de 10 bi-ano para a saúde, foi cortada, por pressão da mídia e dos tucano-demistas, com o objetivo de proteger as sonegações, e , principalmente, tentar diminuir o exito do Governo Lula . Fala em cortes, mas não cita sua causa, ou seu contexto. Nem eu sei quais são, e confesso que não pesquisei para a produção deste corrente texto. Mas, quer saber, eu confio na turma que esta a frente do pais hoje, e sei que, mesmo com erros, estão tentando fazer a coisa certa.
Termino esta tentativa de dialogo com aquele maldito direitista, apos as medicas em Fortaleza e em outros locais receberem os cubanos com vaias e gritos de ódio. Uma das cenas mais deploráveis de nossa historia, na minha opinião, principalmente se levarmos em conta que a motivação dos quem são contra a vinda de médicos de outros países. A famosa entica medica, neste caso saiu pela culatra pois, se a hipótese da Dilma querer prejudicar a classe medica estiver certa, ela precisou fazer pouco. Os próprios médicos e seus órgãos representativos fizeram por onde conquistar o papel de antagonista, com louvor.
Ao mesmo tempo, ontem, vi uma serie de postagens de medicas e médicos saudando os colegas de profissão estrangeiros e pedindo desculpas pelos atos da turminha inteligente e bacana responsáveis pela gracinha na recepção.
Enfim, meu caro amigo Chico, não consegui absorver uma unica razão logica para impedir que o interior do Brasil tenha a presença de médicos, mesmo que sabendo ser um solução paliativa e carente de infra-estrutura. Mas cria-se uma avenida para que essas populações, em geral sofridas e carentes, possam, a partir dessa conquista, aumentar seu patrimônio publico, criando mais e melhores condições para a sofisticação e humanização de nosso sistema único de saúde.
Desculpa a demora...to estudando para uma prova...espero que esteja tudo bem...abs…
Alan FrickPS: os vários erros de acentuação, principalmente os agudos, são fruto de uma desconfiguração no teclado do notebook...
PS2: aqui vai o link do gênio de Feira de Santana: https://www.facebook.com/photo.php?v=224500904368356
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Fora Zenaldo Coutinho
o jeito PSDB de governar de Zenaldo Coutinho ta ficando famoso...5 minutos de reportagem no Jornal Hoje...tenho a impressão que, diante do absurdo das imagens e da cara de pau do Zena, vai direto pro jornal nacional....cenas dos dois hospitais de emergencia o da 14 e do Guama (quem mora em Belem e regiao conhece) com cenas que devem fazer, ainda mais fortes, as vozes das ruas...nem a passagem de onibus, que boa parte dos prefeitos de capitais reconsideraram, este fez...arrogante, com um sorriso absolutamente cretino, sempre tem respostas mansas para os jornalistas...mas todos que conhecem o poder no Para sabem bem a forma truculenta e elitista, deste ex-militante juvenil pro-ditadura militar...com todo o respeito, que este não merece, Belem não merece isso...acho que ta pintando um clima de Fora Zenaldo...bora soprar...
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
Hipócritas ou Hipocrates, eis a questão
com todo o respeito aos médicos
brasileiros, mas falemos a verdade.
1- quando estamos na escola, principalmente, quando perto do período
de prestar o vestibular, as famílias sonham, em geral, que você entre para a
faculdade de medicina, engenharia, odontologia. O resto fica em segundo plano
e, os cursos que licenciarão professores são consideradas a praga da mosca
do coco do cavalo do bandido.
2- Os que conseguem passar para este curso (medicina), em
geral viveram muitos sacrifícios, num período da vida em que a maioria das
pessoas prefere a diversão ao estudo. O êxito, em regra, e visto como uma espécie
de inicio de aposentadoria.
3- A maioria sonha em ter um consultório, talvez dar aulas,
mas, principalmente, ter uma vida confortável, perto da família. Estas, em
geral, estão nas capitais e cidades grandes, onde existe um sistema de ensino
capaz instrumentalizar os estudantes para sonharem com o juramento Hipocrates.
4- Nada contra esses sonhos, mais justos impossível. Mas no
momento em que o Governo Federal, pela primeira vez na historia do Brasil,
tenta iniciar a resolução de um problema nevrálgico de nosso estado lançando o
programa MAIS MEDICOS, com a previsão da vinda de profissionais de outros países
para suprir a falta destes no interior do estado, a classe medica fica mais
perto da hipocrisia que de Hipocrates, quando diz que não se instala no
interior por culpa do SUS. Isso esta muito longe da verdade e a razão de não fazerem
e porque consideram isso pouco confortável, porque podem ganhar o mesmo ou um
pouco menos morando nos grandes centros e usar o interior como veraneio, e ponto.
Todos sabem disso, pelo menos todos os que sabem como funcionam as faculdades
de medicina, ou ainda, as famílias de classe media e alta, de onde, em geral, saem estes médicos.
5- O Governo acertou na mosca quando fez um edital antes de
chamar os estrangeiros. Aqui no Para, por exemplo, na Ilha do Marajó, a
localidade com o pior IDH do Brasil, houve a inscrição de apenas um medico no edital, já Marituba, que fica colada em Belém, foram cinco.
6- E agora, o que farão os hipócritas de plantão, pois, por Hipocrates,
estes deveriam defender a vida acima de todas as coisas, principalmente de suas
vaidades.
Se ninguém quer ir pro interior,
que deixem vir os estrangeiros...enfim...
sábado, 3 de agosto de 2013
Sociedade dos Poetas Mortos, uma sinopse critica
A Historia desenrola-se numa tradicional escola estadunidense chamada Welton Academy, dona de metodos ortodoxos de ensino e regras rigidas de conduta. Seus estudantes, todos do sexo masculino, sao filhos de familias proeminentes do Leste Americano. As expectativas de todos aqui eram as maiores possiveis, da escola, dos estudantes, das familias, amigos, de que a maioria ingressaria nas principais universidades, como Harvard ou Yale.
Neste ano, em 1959, um novo professor assume a cadeira de literatura Inglesa. Jonh Keating, ex-aluno da mesma escola, desde o primeiro momento mostra sua predileção por formas bem diferentes de abordar o conteudo programatico previsto na ementa apresentada pela escola, ou mesmo a perspectiva com a qual estes enxergavam e viviam as proprias vidas.
Esta forma ousada de mostrar os caminhos do conhecimento, discuti-los com os estudantes, ao inves de joga-los, acende uma luz de esperança nos olhos de alguns jovens que, desde seus primeiros anos em Welton, foram treinados a obedecer e encher seus copos vazios de conhecimento, para quando alcançassem a maioridade saissem das redeas obtusas e falso-moralistas das familias para a republica hipocrita da normalidade adulta, claro, a bem sucedida, a capitalista.
Estes jovens, pesquisando a vida de Keating em seu anuario, resolvem perguntar a este o que significava uma tal ^SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS^. O professor, empolgado com as lembranças conta-lhes, vivamente, que eram um grupo de estudantes que adoravam poesia e a exerciam plenamente. Seus membros reuniam-se numa gruta, conhecida como Caverna India e la pensavam e falavam livremente.
Neil *Sean Leonard- especie de lider espiritual do grupo, reprimido por seu pai, que o forçava a seguir um caminho pre-traçado para o exito, no caso, o da medicina.
Todd *Ethan Hawk- novo na escola, tinha muito medo da reprovaçao, entao buscava nao errar, ficar na sua e passar despercebido. Queria cumprir o protocolo e pronto. Liberta sua consciencia quando Keating o
força a declamar em publico o que sentia, quando surpreende a todos com sua paixao e complexidade.
Charlie * - filho de familia muito rica, Charlie e o que menos reprime seu comportamento, encontrando um apoio para extravasar a forma real com que gostaria de lidar com a vida.
Knox *Josh Charles- exitante, com muito medo da rejeiçao de seu objeto de desejo, uma garota da escola publica da cidade. Encontra nas palavras de Keating e nos encontros dos poetas mortos,
a coragem para executar sua vontade, que e tentar conquista-la.
E, a partir da iniciativa destes quatro amigos, a trama se desenvolve de forma envolvente, trazendo perguntas relevantes sobre as prioridades tao naturalizadas de nossa sociedade, dilemas daquela epoca, que tem sua grande atualidade. Uma excelente atuação de Robin Willians, ator de alto nivel, que teve nesse filme o apice de sua heterogenea carreira.
obs- meu teclado esta desconfigurado...
obs- meu teclado esta desconfigurado...
Alan Fick
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